18 de maio de 2015

Festa do Bembé em Santo Amaro celebra há 126 anos fim da escravidão

O centro de Santo Amaro tornou-se, por um dia, a Meca do povo de santo. De todos os lados, a cada minuto, nativos e visitantes chegavam para a celebração, vestidos com suas roupas e torços brancos e coloridos, presos milimetricamente ao corpo e à cabeça.

Em meio à feira livre e ao funcionamento de bares,  açougues e restaurantes, o xirê (roda de dança em reverência aos orixá) não silenciava. Nem a forte chuva atrapalhou a festa.



Todos os caminhos de terra e as águas do Rio Subaé levavam ao Mercado de Santo Amaro, na praça Municipal da cidade, onde um grande "candomblé de rua" foi montado.

Foi assim o último dia de festejos do Bembé do Mercado, celebração que há 126 anos comemora o fim da escravidão negra no Brasil e é registrada como Patrimônio Imaterial da Bahia pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac).
Iniciada na última quarta-feira, data da abolição, neste ano a festa teve o seu dia derradeiro neste domingo, 17, com a tradicional entrega de presentes às yabás Iemanjá, Oxum, Obá, Ewá e Nanã.
A família Veloso foi representada no barracão do Bembé por Mabel, Clara Maria e os filhos da segunda, que presentaram as orixá femininas com flores, sabonetes e perfumes.


Adeptos do culto afro entregaram flores e perfumes para as yabás, as deusas das águas (Foto: Mila Cordeiro l Ag. A TARDE)


Saudades

"Crescemos sabendo a importância da festa e ouvindo histórias ", contou Mabel, que, apesar de não ser iniciada no candomblé, é identificada como filha de Nanã. "Hoje é um dia de lembrança de minha mãe, que não perdia a festa, chegava aqui cedo, dividia o bolo. Essa festa está misturada com um pouco de saudade", revelou.

O babalorixá José Chaves, o pai Pote, sacerdote do Ilê Axé Oju Onirê, terreiro membro da Associação do Bembé, que organiza a celebração, lembrou da importância da comemoração para o povo negro.

"É uma festa de resistência e de afirmação contra o racismo e a intolerância religiosa", ele destacou.

Já passavam duas horas da metade do dia quando os presentes foram colocados no mar de Itapema, distrito praiano de Santo Amaro. Um protesto de moradores contra o abandono da região pelo prefeito Ricardo Machado (PT) chegou a impedir a passagem dos balaios, mas a situação foi contornada.

Associação retoma foco religioso da celebração

A festa do Bembé do Mercado começou a retomar, este ano, o protagonismo da prática religiosa, após seis anos de foco sobre grandes shows que disputavam os holofotes com os rituais sagrados tradicionais.

Para conseguir revitalizar a tradicional celebração litúrgica do Mercado de Santo Amaro, a comunidade local precisou montar a Associação do Bembé, composta por mais de 40 terreiros, instituições e representantes de manifestações culturais.

Antes disso, a historiadora Ana Rita Machado, que teve sua tese de mestrado sobre o Bembé usada como dossiê no registro da manifestação como patrimônio imaterial, recebeu de Iemanjá o cargo de otun egbê (conselheira da comunidade) para organizar a celebração.

Foi a partir daí que a reorganização deste “candomblé de rua” foi acontecendo. “Além do compromisso intelectual, tenho a relação afetiva e religiosa com o Bembé”, afirma Ana Rita.

Ela considera que a luta pelo protagonismo da religião é uma briga “pela construção da cidadania e pela autonomia do povo negro”.

“O Bembé é a reinterpretação do que foi o 13 de maio, conta uma outra história, transforma a cidade toda em um grande terreiro”, diz a historiadora.

Fonte: Jornal A Tarde

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