16 de maio de 2015

Militantes do PCB em Santo Amaro depõem na Comissão Estadual da Verdade

“Qual era o pecado dessa turma toda? Era de ser idealista, ser contra a exploração dos operários e ter o sonho de ver uma sociedade mais justa, mais organizada e sem terceirização”, disse, emocionado, Laurindo Pedro Gomes, 74 anos, que em 1964 era operador de processamento na Refinaria Landupho Alves, da Petrobras, e vinculado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em Santo Amaro. 

Ele foi uma das seis vítimas da ditadura militar em Santo Amaro, no Recôncavo baiano, que prestaram depoimento à Comissão Estadual da Verdade - Bahia na sexta-feira (15/05/15), em audiência pública realizada no auditório do Colégio Estadual Teodoro Sampaio, no município.



O coordenador da CEV-BA, advogado Jackson Azevedo, abriu a audiência, que teve a plateia composta principalmente por estudantes, afirmando que “a revolução foi na verdade um golpe civil-militar”. A professora Dulce Aquino e a advogada Vera Leonelli, integrantes da Comissão da Verdade, também participaram da audiência.

O primeiro a depor foi o professor Carlos Augusto da Silva, 80, preso de 12 de abril a junho de 1964. Segundo ele, o sargento Barreto, no Quartel do Tiro de Guerra de Feira de Santana, colocou a mão no seu peito e disse que queria “um Tribunal de Exceção para matar comunistas iguais a você”. 

Outro oficial do Exército chegou a lhe dizer que “o Papa João XXIII é comunista igual a vocês”. Na cadeia, Carlos Augusto disse ter vivido “o verdadeiro comunismo, pois tudo era repartido, os jornais e os mantimentos”. Ligado a grupos de esquerda, ele escrevia no jornal mensal ‘Tribuna dos Moços’, em Santo Amaro.

Antônio Trigueiros, 73, outro a depor, era auxiliar técnico de manutenção da Refinaria Landulpho Alves, militante do PCB e trabalhava na alfabetização de operários, adotando o Método Paulo Freire, quando foi preso em 1º de abril de 1964, em Santo Amaro. 

Ficou encarcerado no Quartel do Barbalho, no Forte de Monte Serrat e no Quartel do 19 BC, no Cabula, sendo libertado em 22 de dezembro do mesmo ano. Ele foi levado para o Quartel de Amaralina, sendo submetido a um ‘fuzilamento’ com pólvora seca. “Depois desta simulação, tive de ser carregado até a cela, pois as pernas estavam tremendo. Às vezes, a tortura psíquica é pior do que a física”.


“Golpe começou antes”
A Comissão ouviu ainda Siginaldo da Costa Vigas, que também trabalhou na Petrobras e estava começando a frequentar reuniões do PCB quando foi preso em 6 de abril de 1964 e solto 45 dias depois. “Eles acham que ser comunista é crime. O primeiro comunista militante que teve aqui na Terra foi Jesus Cristo”.

Odyrceo da Costa Vigas, 75 anos, era operador da área de Utilidades da Refinaria Landulpho Alves quando foi preso em 6 de abril de 1964 e libertado somente em junho. Participava das reuniões do PCB, apesar de não ser ligado oficialmente ao chamado Partidão. Para ele, “o golpe de 64 começou muito antes, desde quando queriam impedir a posse de Getúlio Vargas”.

O professor Aloísio Lago, 72 anos, diretor do jornal mensal ‘O Trombone’, que circula em Santo Amaro há 15 anos, não chegou a ser preso, mas disse que sofreu muitas ameaças, principalmente quando foi presidente do diretório estadual do PMDB em Salvador. “Toda noite eu recebia telefonemas do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) com todo tipo de ameaça”.

Com informações SECOM BA

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